quinta-feira, 21 de junho de 2007

Introspecção forçada....



"As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada.
Pouco a pouco se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes, e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.

Sós.

De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se, fazem amor e ódio,
e vão à vida como se nada fosse.

As árvores, não.
Solitárias, as árvores, exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
E Gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores"

António Gedeão

1 comentário:

Stôra disse...

Gedeão foi uma boa escolha :) Eu diria que andas com os sentimentos um pouco doridos :P