quinta-feira, 21 de junho de 2007

Introspecção forçada....



"As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada.
Pouco a pouco se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes, e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.

Sós.

De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se, fazem amor e ódio,
e vão à vida como se nada fosse.

As árvores, não.
Solitárias, as árvores, exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
E Gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores"

António Gedeão

sábado, 16 de junho de 2007

Logro Perfeito.......



Amordaçado pela minha própria natureza!
Olhares esquivos, lêem a minha panóplia de sentimentos, e descrevem-nos como seus, pela simples alusão ao afecto profundo que neles encontram. Não porque sejam seus, mas porque as sílabas proclamadas por dedos incrédulos, encaixam na subjectividade de uma “vida quase lixada”!

Mentecaptos para a vida, seguem ao sabor do vento, que os levam sem rumo. Esse mesmo vento, que me eleva e seduz, num bailado de luz e som, de corpos unidos por algo maior que a humanidade! Ahhh, doce ilusão, que tão forte nos ilude, para segundos depois nos atingir no âmago!

Não, não sou o que escrevo, nem escrevo o que sou. Porque as palavras são parcas para exprimir o turbilhão de moléculas que meu corpo exala, em cada sentimento profundo, de um pictograma recordado! Mas escrevo como sei, para expelir o que me magoa! Não acedo ardilosamente a palavras obscuras para delinear o meu horizonte. Devia?? Prefiro desejar que não!

Se me perguntarem quem sou, direi apenas: “eu não sou ninguém”! A quem me perguntar “foste tu quem escreveu isto?” nesse mesmo momento terá a sua resposta – o silêncio oculto de um sim proscrito!

Muito mais simples seria dizer: “ Eu amo-te, quero-te, desejo-te, sofro por ti, sonho contigo e quando acordo a teu lado, é para te ver esvaecer na minha almofada!”. Mas esse sentimento não me arpoa; solta-me no imenso mar dos desideratos falíveis do coração!

Assim, o que sai da minha mente, fica para sempre oculto no coração, porque o que se vê, nunca é aquilo que o coração sente! São apenas vestígios daquilo que me fazia feliz!